Francisco Lobo da Costa um grande vate nunca morre (parte final)

Em 2013, Ângela Treptow Sapper e Carlos Eugênio Costa da Silva publicaram, pela Editora da Universidade Católica de Pelotas, o Almanaque Francisco Lobo da Costa, fruto de intensas pesquisas, análises e estudos da vida e obra lobiana, trazendo consigo o desejo de contribuir com a imortalidade literária de Lobo através de informações, curiosidades, comentários, fotografias, cópias de documentos, artigos, enfim, fatos inéditos ou não, que possibilitassem a conhecer melhor ou a amenizar a saudade desse ícone maior de nossa prosa, poesia e dramaturgia, além de homenageá-lo nos seus 160 anos de nascimento.
No ano de 2020, o Instituto Francisco Lobo da Costa (IFLC), através de seus membros diretores, Ângela Treptow Sapper, Estevina Matarredona da Silva, Inalva Nunes Fróes, organizou e publicou a obra Caleidoscópio lobiano, pela Editora e Gráfica do IFSul Câmpus Pelotas, cujo volume foi, devido à pandemia, devidamente lançado ao público no segundo semestre de 2022. Essa obra integra-se aos objetivos essenciais do IFLC, pois os temas e abordagens visitados pelo livro convidam e incentivam os leitores a conhecer, refletir e investigar, na obra lobiana, a versatilidade, o conteúdo e a qualidade desse fulgurante vate nos diversos estilos literários.
Em 2024, foi criado, organizado e realizado por Ângela Treptow Sapper e João Ferreira Filho, no Plural Singer Studio, para o YouTube, o "Momento Lobo da Costa", que, através de um episódio semanal, conta a vida e obra de Lobo, mostrando fotos significativas do vate, seus amigos, familiares e também dos Saraus lobianos do IFLC em sua homenagem.
As contribuições de Lobo na prosa ficcional e dramaturgia, juntamente com sua obra poética, transformam-no num vulto importante e inesquecível do Romantismo Gaúcho. Sua obra possui qualidades que a tornam importante no plano nacional e a revestem de características de permanência e universalidade.
Retornando à pesquisa referida na parte1 deste texto, (publicada no DP na edição de 29, 30 e 31 de março de 2024), no conjunto das entrevistas, também se pôde considerar como relevante o fato de que várias pessoas ouvidas declararam conhecer e até já haver lido toda ou grande parte da obra de Lobo. Isso chega a ser surpreendente, se considerarmos que, mesmo com relação aos maiores escritores nacionais, é incomum encontrar pessoas que declarem haver lido toda a produção literária de um escritor.
Nessa pesquisa realizada, pôde-se identificar a existência de duas concepções para o mesmo Lobo da Costa. Uma delas - certamente a que mais nos interessa - a do literato que compôs, em verso e prosa, obras importantes no contexto do Romantismo pelotense e gaúcho da segunda metade do século 19. Essa faceta do escritor é reforçada, também, pelo enquadramento de Lobo como escritor regionalista, folclorista, abolicionista, indianista e outros tantos traços que sempre o identificaram como um literato amante das causas da liberdade e da justiça social - temas, aliás, mais atuais do que nunca.
De outra parte, há um segundo Lobo da Costa, que é o ente histórico, a referência do passado trazida para as marcas do presente e que se pode encontrar de maneira muito evidente por toda a cidade. Aqui, poder-se-ia lembrar não só o fato de ser patrono de três cadeiras, sendo duas de Academias de Letras locais e uma na Casa de Cultura de Pelotas ou de emprestar seu nome à Casa do Poeta, à Confraria Literária, ao Instituto Francisco Lobo da Costa, à biblioteca da Associação Comunitária do Laranjal, a uma Escola Municipal de Ensino Infantil Lobo da Costa, no bairro Pestano, em Pelotas, mas aludir a outras circunstâncias e fatos que o fazem permanecer muito vivo na memória diuturna da cidade. Lobo da Costa é nome de uma importante rua de cerca de 20 quarteirões, em pleno centro urbano; é nome de uma praça, a uma quadra do local onde tombou morto; é mentor espiritual do Centro Espírita Francisco Lobo da Costa, fundado em 27 de abril de 1949; de suas obras são feitas semestralmente leituras, releituras e encenações teatrais pelo Grupo de Teatro do IFLC e o da UFPel; seu túmulo, no cemitério São Francisco de Paula, em forma de livro, é sempre visitado durante o Dia de Finados e ao longo do ano; é o homenageado de duas comunidades digitais, que levam o seu nome no Facebook; placas de pedra e bronze há por toda cidade - como as existentes junto à entrada principal da Bibliotheca Pública Pelotense (atualmente colocadas no Museu da BPP para a segurança e preservação das mesmas), e reproduzem partes de sua obra e imortalizam sua memória. Além disso, existe uma linda herma do poeta realizada pelo escultor Hugo Édson Barcellos Fabião situada numa praça que leva o seu nome e que fica na convergência de três ruas: Barroso com Ferreira Viana e Argolo.
Em verdade, esses dois Lobos - o escritor e o ente histórico - não são contraditórios; antes, eles se complementam. Um não existiria sem o outro, pelo menos, não nas circunstâncias em que se pesquisou em Pelotas. E, nestes tempos de informação virtual e eletrônica e de atenção cada vez menor dada à leitura e aos livros, a força do Lobo histórico certamente auxilia - e muito - na sobrevivência literária do Lobo poeta, romancista, contista, cronista e dramaturgo. Para Pelotas, os dois são um ente só.
Por outro lado, nas entrevistas, diante da questão que visava saber se as pessoas liam por prazer, a grande maioria afirmou que sim, associando, então, a apropriação do conteúdo cultural de um livro com um certo tipo de compensação ou satisfação genericamente assumido como prazer. Vários declararam que liam ou leram Lobo da Costa, porque se tratava de um autor que não era difícil de ser compreendido. Parece que em Lobo - e em seus leitores - podem estar presentes os conteúdos daquilo que Gerard Mauger e Claude Poliak (1999, p. 393-424) denominaram de leitura evasiva ou estética, ou seja, os leitores do poeta pelotense encontram suas obras bem escritas e fáceis de ler e, por outro lado, valorizam o prazer da forma, o prazer do texto que enseja uma distância mais reflexiva.
Por fim, verifica-se que Lobo da Costa é assumido como um escritor de Pelotas. Seu grau de conhecimento e reconhecimento é superior à média de todos os escritores gaúchos do século 19; sem dúvida, sua figura ombreia com a de João Simões Lopes Neto, que, na verdade, é já um literato do século 20, de âmbito regionalista e que tem uma visibilidade fora de Pelotas maior que a de Lobo.
São consistentes os traços da sobrevivência literária de Lobo, não só pela leitura ou releitura de seus textos, mas também porque ele continua a ser fonte inspiradora para pesquisas acadêmicas, para a produção de novas obras, além de servir como patrono de eventos artístico-culturais que, a cada ano, se renovam, sob forma de tertúlias, saraus, festivais, círculos poéticos e outras atividades que levam o seu nome ou onde ele é homenageado. E por falar em Saraus, o Instituto Francisco Lobo da Costa (IFLC) oferece gratuitamente ao povo pelotense, todos os meses, numa terça-feira, um Sarau Lobiano, que acontece, ora na Sala dos Servidores do IFSul Câmpus Pelotas, ora no Clube Caixeiral de Pelotas. O Sarau, como no século 19, apresenta sempre uma ótima música, belos poemas e uma confraternização deliciosa com doces gostosíssimos.
Para concluir, é importante lembrar que o IFLC sempre festeja seu aniversário no mês de julho e, neste ano, precisamente, tal evento acontecerá no dia 5, com um jantar por adesão no Clube Caixeiral de Pelotas, durante o qual serão homenageadas instituições ou personalidades levando em conta as suas relevantes contribuições prestadas à Cultura, à Literatura e à História da cidade de Pelotas e região.

Ângela Treptow Sapper
Embaixadora da Cultura Pelotense

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